terça-feira, 11 de agosto de 2009

"Eu gosto de Juazeiro e adoro Petrolina"


05:30 - O sol ainda teimava em não despontar no horizonte, mas o trabalho tinha de começar. Não só o nosso, mas também a labuta dos moradores de Juazeiro e Petrolina.
Justificar
Ao contrário do esperado, o sol não foi nascendo aos poucos. Em segundos, ele já brilhava inteiro nas paredes das casas de Juazeiro, nascendo atrás de Petrolina.
O São Francisco, da penumbra, logo logo, já estava azul. Lambia as barrancas da Bahia e de Pernambuco.









segunda-feira, 10 de agosto de 2009

“É. Os Chicos começou...”






Como disse companheiro Drumond, ao avião tocar o solo do aeroporto de Petrolina: “É. Agora Os Chicos começou...”.

Primeiro dia de viagem marcado por ajustes e surpresas. Pré-produção – nem tanto pré assim – ainda tomando tempo. Aluguel de carro, acertando infra de internet e primeiros passos de caça a Chicos e Chicas.

A chegada a Petrolina às 15 horas desta segunda-feira foi ingrata para tantas pendências, mas majestosa ao dar um fim de tarde dourado e azul do São Francisco, dividindo/unindo o lado pernambucano do baiano, representado pela simpática Juazeiro.

O vaivém das balsas, no gritante azul das águas do São Francisco, reforçou o prazer da empreitada.

E a surpresa ficou por conta de Raimunda Posto do Sol, vereadora de Petrolina e responsável pela divulgação do Samba de Véio, da Ilha do Massangano.

O Samba de Véio é uma manifestação cultural mais do que centenária de uma comunidade formada por 150 famílias, na sua maioria, descendentes de escravos.

E é para Ilha de Massangano, para o Samba de Véio que seguiremos nesta terça-feira. Lá passaremos o dia com os primeiros Chicos e Chicas.

sábado, 8 de agosto de 2009

Expectativas...






Já perdi as contas de quantas vezes estive em alguma barranca desse gigante São Francisco. Também não é coisa para ficar guardando de cabeça, assim como não lembramos quantos amores tivemos, sorrisos demos, alegrias sentimos. Coisa boa não é para anotar em caderno. É para viver!

Desta vez, será com responsabilidade redobrada que pisarei o chão lambido pelas águas do Velho Chico. Farei o melhor para contribuir de alguma forma com a gente batalhadora deste rio. Passei anos escutando suas histórias, experiências e sabedorias. Agora chegou a vez de retribuir e tentar documentar o máximo que conseguir essa cultura oral tão importante para o nosso país.

Nunca conheci a Europa, nunca fiz compras em Nova York e somente uma vez – nestes 33 anos de sobrevida nessa terra – coloquei meus pés no exterior. Fico triste, pois queria conhecer outras culturas, outros povos, tudo! Mas me orgulho, pois optei por gastar o meu tempo tentando conhecer a fundo o interior do meu país.

Nenhum brasileiro precisa amar o Brasil, mas todos têm a obrigação de conhecê-lo, mesmo que seja para odiá-lo.

Acho que é isso que pensarei a cada dia dessa empreitada que se inicia por Petrolina, no meu amado Pernambuco.

Sigo em busca de histórias, de lendas, de batalhas de vida, de música, de versos. Talvez o verso seja a marca desse rio, onde, na submersa cidade de Remanso, até as mensagens das lápides eram escritas em versos.

Levarei a saudade das minhas duas meninas loiras. Por elas, sonho.

Arrêa!

Gustavo Nolasco


É difícil explicar as sensações, tão intensas, na véspera de uma viagem tão incrível. Afora as inúmeras atividades de pré-produção, pesa a responsabilidade da tarefa. Trata-se de conhecer, documentar e desvendar as pessoas que moram às margens de um rio, cuja história está ligada à ocupação do país. Local que, antes da chegada dos europeus e africanos, alimentou com fartura diversas tribos indígenas ao longo de seu extenso trajeto. Rio que durante anos foi a ligação entre os dois extremos do Brasil.

Já conheço alguns trechos mineiros do Velho Chico. Sua belíssima nascente, a região de Três Marias e, por diversas vezes, estive em Pirapora. No ano passado, tive o privilégio de navegar desta cidade até Januária, ao longo de cinco inesquecíveis dias. E o pouco que conheço desse rio, já é suficiente para me apaixonar.

Agora vou rumo ao desconhecido. Região que nunca pisei, no coração do sertão. Local onde caminharam gigantes, como Antônio Conselheiro e Lampião. Irei até o extremo desse caminho, onde o Bispo Sardinha foi devorado, símbolo de ideias importantes que andam esquecidas.

Sei que vou encontrar motivos para, mais uma vez, me indignar com a burrice imensa que é a relação atual da humanidade com as águas, maior fonte de vida do mundo. Modo de vida suicida, que acha que vale a pena destruir um rio para produzir bugigangas inúteis.

Mas também vou conhecer aquela boa gente do Nordeste, resquícios de gerações que viveram ao lado do rio, pelo rio e em função do rio. Rio que nesse trajeto proporciona paisagens tão incríveis, que, segundo dizem, são das mais belas do nosso país.

Como toda viagem longa, o cansaço e a saudade das pessoas queridas serão um problema. Mas pode haver coisa melhor do que viajar fotografando e conhecendo pessoas, lugares e sensações novas?

Povo do Opara, Velho Chico, Rio São Francisco. É com muita reverência que inicio essa jornada.

Leo Drumond

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Fernando Morais apoia Os Chicos



“Finalmente alguém se preocupou com o Velho Chico - foi a minha primeira sensação ao tomar conhecimento do trabalho “Os Chicos” do jovem e brilhante jornalista mineiro Gustavo Nolasco. Quem de nós não tem enterradas na alma lembranças do Rio São Francisco, mesmo aqueles que jamais molharam os pés em suas águas? O Rio São Francisco é berço de infinitas manifestações culturais, de lendas e de histórias de uma parte pobre do povo brasileiro que tenta arrancar a sobrevivência das suas águas. Percorrer todo o trajeto do São Francisco, como faz Nolasco nesta aventura fascinante, é mais do que conhecer as fronteiras geopolíticas de um rio. É uma forma de redescobrir um pedaço do Brasil. Seu trabalho merece o apoio de todos.”

Fernando Morais, escritor

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Povo Sabido


"Deus criou a humanidade porque gosta de histórias"

Elie Wiesel, escritor romeno e Prêmio Nobel da Paz

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Marcel Gautherot e o São Francisco




O Rio São Francisco também foi tema recorrente na obra de um dos maiores fotógrafos que podemos chamar de "brasileiros". O franco-brasileiro Marcelo Gautherot percorreu o rio nos estados de Alagoas e Bahia nas décadas de 40 e 50, deixando, talvez, o mais belo registro fotógrafico do Velho Chico já feito.
Nascido em Paris em 1910, Gautherot se apaixonou pelo Brasil lendo Jorge Amado e mudou-se para o Rio de Janeiro em 1939. Fez parte de um importante círculo de intelectuais modernistas, dentre eles, Rodrigo de Melo Franco, Carlos Drummond, Mário de Andrade, Lúcio Costa e Burle Marx.
Sua coleção é composta por mais de 25 mil negativos e atualmente pertence ao Instituto Moreira Sales.
Gautherot percorreu 18 estados brasileiros, fotografando, registrando o povo brasileiro, sua arquitetura, suas festas. Sua coleção é um vasto retrato da diversidade cultural do país. Morreu aos 86 anos, no Rio de Janeiro.





Agradecimento: Este post é uma contribuição de Sônia Lucena (Secretaria de Estado de Cultura de Alagoas), companheira, amiga e apoiadora do projeto Os Chicos

quinta-feira, 30 de julho de 2009

10 de agosto começa a saga de Os Chicos




Muitas contas, planilhas, cálculos e fios de cabelos branqueando ou caindo. Assim foram os últimos meses de preparação para a execução do projeto Os Chicos. Mas, enfim, vai começar!

Em reunião na d'Cult - produtora executiva do projeto - ficou definido que no dia 10 de agosto se iniciará o trabalho de pesquisa em campo. Partindo de Petrolina/PE até a foz do São Francisco, na pancada do mar entre Alagoas e Sergipe

O blog acompanhará passo a passo todas as ações desta primeira etapa, que consumira 25 dias de pesquisa executada pelo jornalista Gustavo Nolasco e pelo fotógrafo Leo Drumond. A segunda etapa - ainda sem data determinada - será executada no início de 2010, no trecho da nascente do Velho Chico até Sobradinho/BA.

Além da produção executiva da Dcult, Os Chicos têm como parceiros fundamentais a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) e a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM). Empresas que apostam na documentação da história oral das comunidades do São Francisco como uma importante ação de preservação da cultura brasileira.




quarta-feira, 29 de julho de 2009

Prêmio Comunicador do Futuro




Com o tema "Água, fonte inesgotável?", a edição 2009 do Prêmio Comunicador do Futuro, criado pelo Governo de Minas Gerais, vai premiar os melhores trabalhos de estudantes de Comunicação Social nas categorias:

• TEXTO JORNALÍSTICO
• PEÇAS PUBLICITÁRIAS
• ENSAIO FOTOGRÁFICO (categoria aberta à participação de graduandos em outros cursos)

O prêmio, em sua segunda edição, mais uma vez aborda um assunto relativo ao nosso bem mais precioso: a água. Na edição anterior, o tema era o Rio São Francisco, e o fotógrafo Leo Drumond, um dos autores do Projeto Os Chicos, ficou em segundo lugar. Além da premiação em dinheiro, os ganhadores tiveram a oportunidade de fazer uma belíssima expedição pelo rio, de Pirapora até Januária.

Clique aqui para ver as fotos da expedição

Clique aqui e saiba mais sobre a Edição 2009 do Prêmio Comunicador do Futuro

terça-feira, 28 de julho de 2009

Bacia do São Francisco abriga fortes desigualdades socioespaciais


A bacia do Rio São Francisco é composta por 506 municípios localizados em sete estados do Brasil. A área ocupa cerca de 7,5% de todo o território brasileiro e concentra 9,6% da população nacional.

Entre as principais atividades econômicas estão, por um lado, o cultivo da soja e do algodão, no Cerrado baiano, e a fruticultura em áreas irrigadas do Semiárido, todas voltadas especialmente para exportação. Por outro lado, as atividades industriais, se concentram na Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Com toda essa dimensão e heterogeneidade, a região abriga fortes desigualdades socioespaciais, conforme revela o estudo Vetores Estruturantes da Dimensão Socioeconômica da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco divulgado pelo IBGE.

Clique aqui e confira a íntegra da matéria de Thais Leitão – Agência Brasil

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Povo Sabido


"Por que é que um homem que passa dos setenta anos, inevitavelmente há de sempre nos dizer sua idade como se fosse uma glória?"

Richard Burton, pestanejando no livro "Viagem aos planaltos do Brasil"

quarta-feira, 22 de julho de 2009

O drama do carvão da Bacia do São Francisco


O desmatamento na Bacia do Rio São Francisco está longe acabar. Por outro lado, o estudo Vetores Estruturantes da Dimensão Socioeconômica da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, divulgado pelo IBGE, traz boa notícia. A participação do carvão vegetal produzido nos municípios que compõem a Bacia na matriz energética brasileira caiu pela metade entre os anos de 2000 e 2007, passando de 26,17% para 13,79%.

A bacia do Rio São Francisco é composta por 506 municípios localizados em sete estados. A área ocupa cerca de 7,5% de todo o território brasileiro e concentra 9,6% da população nacional.

A atividade, realizada sem os cuidados de manejo ambiental, é um dos principais fatores de degradação do São Francisco.

Confira a íntegra do estudo do IBGE sobre a Bacia do Rio São Francisco


A mais espetacular romaria do Brasil



A motivação religiosa tem nas romarias um dos principais eventos coletivos no Brasil. Conhecidas nacionalmente estão as romarias de Aparecida do Norte/SP e de Juazeiro do Norte/CE, terra de devoção a Padre Cícero.

Já as romarias a Bom Jesus da Lapa/BA têm o mesmo grau de grandiosidade, mas é pouca conhecida fora do Nordeste.

Localizada no sertão baiano, a cidade de Bom Jesus da Lapa chega a receber 2 milhões de romeiros ao ano. Já na Festa do Bom Jesus, comemorada no dia 06 de agosto, são quase 500 mil devotos visitando o mais espetacular santuário de todo o País.

O santuário do Bom Jesus da Lapa se localiza às margens do rio São Francisco. Formado por um gigantesco maciço calcário, de 90 metros de altura, e recortado por uma infinidade de galerias e grutas naturais, de até 50 metros de comprimento e sete de altura.

É nesta obra estupenda da natureza, descoberta em 1691 pelo português Francisco Mendonça Mar, que são rezadas missas, novenas e onde os milhares de romeiros deixam seus ex-votos, pagamentos de promessas e pedidos aos santos.

O pagamento de promessas em cabaças é outra tradição da romaria de Bom Jesus da Lapa que a torna infinitamente mais mágica do que Aparecida do Norte ou Juazeiro do Norte.

Durante os três séculos de história da gruta e da festa do Bom Jesus, muitos devotos, pela dificuldade de locomoção, deixaram de peregrinar até a cidade do sertão baiano. A solução era colocar as ofertas – dinheiro, flores, próteses etc – dentro de cabaças e soltá-las no leito do São Francisco ou de seus afluentes.

Durante a Festa do Bom Jesus, essas cabaças que vão chegando pelas águas do Velho Chico, são retiradas e levadas para dentro do santuário. No livro Ribeira do São Francisco, de 1994, M. Cavalcanti Proença relata a tradição:

“Também os caboclos que não podem ir até Bom Jesus da Lapa, colocam as suas oferendas em cabaças que largam de rio abaixo e estas vão ter ao seu destino, havendo ficado célebre uma enviada por um italiano com uma cara e sete mil e seiscentos em dinheiro e que, numa violação geográfica, foi posta no rio Sapucaí, da bacia do Paraná. Pois andou de mão em mão até ser lançada no São Francisco e foi descendo, descendo, quando, ao passar em frente ao templo, derivou pelo braço que vai ao pé do santuário sendo apanhada.”

Bom Jesus da Lapa é uma das cidades do roteiro de pesquisa de Gustavo Nolasco e Leo Drumond na execução do projeto Os Chicos.

Clique aqui e saiba mais sobre a festa e o santuário do Bom Jesus


Foto: www.viarural.com


sexta-feira, 17 de julho de 2009

A Nova Geografia da Fome



Leitura obrigatória para quem quer realmente conhecer a realidade do Brasil é “Nova Geografia da Fome”. O livro é uma homenagem ao clássico "Geografia da Fome" (1946), com o qual Josué de Castro, médico, geógrafo e antropólogo pernambucano, denunciou esta problemática no Nordeste, até então vista como tabu.

“Nova Geografia da Fome” é resultado de uma viagem de 60 mil quilômetros feitas pelo jornalista Xico Sá e pelo fotógrafo U. Dettmar. Eles percorreram nove estados nordestinos, o Norte de Minas Gerais e a Grande São Paulo. Assim puderam relatar o novo retrato da fome no Brasil.

O livro também traz abordagens sobre iniciativas para se combater a pobreza no Brasil, como o programa Fome Zero.

Fica também a dica para uma outra boa e rápida leitura. É o blog “O Carapuceiro”, de Xico Sá. Seu texto ácido, sarcástico, cospe com méritos nas hipocrisias e tabus mundanos. Para quem gosta, Xico Sá pode ser considerado o “Charles Bukowski do Recife”.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Roteiros turísticos do São Francisco



Nesta semana, o Jornal Hoje, da Rede Globo, exibiu uma reportagem belíssima sobre os roteiros turísticos do Rio São Francisco. Os repórteres Augusto Medeiros, João Edwar, Lara Cavalcanti, Carla Suzanne, Michele Barros e o espetacular veterano José Raimundo deram um show de dicas para quem quer escolher um pedaço do Velho Chico para visitar.

Um destes roteiros é o passeio pelo vapor Benjamim Guimarães, em Pirapora. Aqui representado na belíssima foto de Lúcia Sebe, experiente fotógrafa mineira e amante do Velho Chico.

Clique aqui e assista a íntegra da reportagem do Jornal Hoje.



terça-feira, 14 de julho de 2009

Uma verdadeira história do Rio São Francisco



João Batista Glória ou simplesmente Seu João. Não se chama Chico, mas com certeza é um dos personagens mais belos que qualquer história do rio São Francisco poderia ter.

Próximo de completar 80 anos, Seu João guarda na memória os tempos de criança e adolescente vividos magicamente às margens do rio São Francisco, na região da cidade de Luz, em Minas Gerais. E para o deleite dos amantes da boa prosa, dos “causos” e de histórias de vida dos barranqueiros, Seu João escreveu suas lembranças do Velho Chico no riquíssimo texto “Uma verdadeira história do Rio São Francisco”.

A história do Padre Nicolau, as citações sobre as espécies da fauna e flora do São Francisco e a pureza das citações de Seu João cativam e emocionam o leitor.

A forma como Seu João se auto-denomina já é de uma poesia sem limite: “sou realista, gosto de sentar na ponta do banco para sobrar para os outros. Ainda faço berrantes, canoas para pescadores, gosto muito de uma sanfoninha 8 baixo chamada pé de bode”.

Aqui fica o convite para a leitura do maravilhoso texto de Seu João, que orgulha todos os amantes do Velho Chico.

Clique aqui e leia a íntegra de “Uma verdadeira história do rio São Francisco”.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Povo Sabido


“Não há, portanto, como contestar a supremacia do São Francisco entre os acidentes geográficos brasileiros. Na América o seu papel, na história da conquista, só é comparável ao dos Andes. Mas, se estes detiveram as populações espanholas do Pacífico, impedindo-as de alcançarem a linha de Tordesilhas, o São Francisco, pelo contrário, foi o caminho aberto pela natureza para que se dilatasse e firmasse o avanço português, ao abandonar o litoral, desde São Paulo até ao Ceará.”
Luís Viana Filho - Prefácio da obra Rio São Francisco e a Chapada Diamantina, de Theodoro Sampaio

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Leo do Peixe: o pescador de livros



No jornalismo, uma das regras para isenção em uma reportagem é que o repórter mantenha uma distância ética de seus entrevistados. Mas algumas histórias são tão fascinantes que tornam esta regra impossível de ser seguida.

O trabalho do pescador Leo do Peixe, de Pirapora/MG, é uma destas históricas que rompem os preceitos básicos de uma reportagem.

Em 2008, Leo Drumond e Gustavo Nolasco construíram, em dobradinha, a reportagem “As letras do Peixe”, para a revista Globo Rural. E ali se tornam grandes amigos do entrevistado.

Leo do Peixe vive da pesca no São Francisco. E Pirapora deve muito a este pescador que criou o Clube da Leitura. São vários espaços públicos onde qualquer cidadão pode pegar gratuitamente livros, numa espécie de biblioteca popular.

A reportagem da Globo Rural foi finalista do Projeto Generosidade 2008, que reúne todas as revistas da Editora Globo e premia ações e exemplos de gente que faz e promove o bem no Brasil.

A história exemplar de Leo do Peixe ganhou o apoio de milhares de pessoas, entre elas, o compositor Tom Zé, que se diz um "leopeixista".

Clique aqui e leia a íntegra da reportagem de Gustavo Nolasco e Leo Drumond na revista Globo Rural.













Fotos: Leo Drumond/Agência Nitro/Revista Globo Rural

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Amar o Brasil não é obrigação



O principal fascínio que os moradores do São Francisco passam para o estrangeiro, o visitante é exatamente a diversidade. É impossível realmente conhecer o rio sem visitar e conviver com comunidades distintas.

O São Francisco de Minas Gerais não se encontra na Bahia ou em Alagoas. Assim como o São Francisco de Sergipe não pode ser visto em Pernambuco.

Estas diferenças se mostram de distintas formas: no folclore, na fala, nos ritos, nas lendas, na culinária, nas crenças, na poesia, na música. Enfim, conviver com os moradores do São Francisco é um excelente modo dos brasileiros conhecerem a tal “diversidade” com que todos gostam de rotular o Brasil.

Amar o nosso país passa pelo sentimental, o que impede de ser obrigação. Porém, conhecer e conviver com os vários “Brasis” é obrigatório seja para amá-lo, odiá-lo ou até mesmo para por ele sentir indiferença.

Em seu livro Ribeira do São Francisco, M. Cavalcanti Proença relata suas experiências ao longo de uma viagem pelas águas do Velho Chico. Ao cruzar o Estado de Minas Gerais e adentrar as águas do São Francisco na Bahia, o escritor, de forma simples e magnífica, testemunha a tal “diversidade do Brasil”:

“...os pobres de sempre, mas agora notamos que já aparecem os cantores, assinalando a entrada nas terras de influência nordestina.”

Foto de João Ricardo Spagnollo: rio São Francisco em Carinhanha/BA

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Rádio Inconfidência destaca Os Chicos


Falar sobre o prazer impagável de passar algumas horas escutando histórias e “causos” às margens do São Francisco. Foi assim que o projeto Os Chicos foi tema do programa Revista da Tarde da Rádio Inconfidência. O jornalista Gustavo Nolasco foi o entrevistado do programa comandado por Déborah Rajão.

Durante a entrevista, ele apresentou o planejamento, traçado em conjunto com o fotógrafo Leo Drumond, para iniciar as viagens pelo São Francisco, em busca dos personagens de Os Chicos.

Ouça a íntegra da entrevista na Rádio Inconfidência

Aqui ficam os agradecimentos a toda a equipe de produção do programa Revista da Tarde.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

O libanês do Cangaço




Nas primeiras décadas do século XX, o sertão nordestino vivia o sentimento duplo de medo-admiração provocado pelo banditismo. Neste cenário, Lampião reinava. E poucos sabem que foi às margens do rio São Francisco que o Rei do Cangaço caiu por terra, morto.

Se poucos sabem desta parte da saga de Lampião, menos ainda conhecem a história do mascate libanês Bejamim Abrahão. Ele conseguiu algo inimaginável naquela época: foi aceito no grupo do Rei do Cangaço e se tornou a única pessoa a captar imagens dos cangaceiros.

A surpeendente história de Bejamim Abrahão é revivida em um dos melhores filmes brasileiros da década de 90: Baile Perfumado. Vencedor do Festival de Brasília de 1996 e do Festival de Havana de 1997.

Além da sensiblidade viceral dos diretores Paulo Caldas e Lírio Ferreira e do elenco, que contou com Duda Manberti e Luís Carlos Vasconcelos, Baile Perfumado traz imagens belíssimas do São Francisco.

Uma das cenas inesquecíveis é um passeio aéreo da câmera sobre os canyons do São Francisco, embalado pela trilha sonora (impecável!!!) composta por Chico Sciense, Fred Zero Quatro (Mundo Livre S/A) e Lúcio Maia (Nação Zumbi).

Saiba mais sobre esse filme que resgata a história do libanês que esteve ao lado de Lampião.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Os Chicos é destaque na Rádio CBN


O projeto Os Chicos foi tema de reportagem na rádio CBN. A repórter Thaís Pimentel entrevistou o jornalista Gustavo Nolasco, autor do projeto ao lado do fotógrafo Leo Drumond. Em um bate-papo descontraído, ele apresentou as diretrizes e objetivos de Os Chicos, além da busca por novos parceiros.

Ouça a íntegra da reportagem da Rádio CBN

Aqui ficam os agradecimentos à Rádio CBN e as saudações para a repórter Thaís Pimentel, que também se revelou uma amante de uma boa prosa à beira do rio São Francisco.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Povo Sabido


"A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros

Vinha da boca do povo na língua errada do povo

Língua certa do povo

Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil"


Manuel Bandeira, em uma das mais belas definições da grandiosidade da cultural oral brasileira

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Assentamento em Petrolina inicia projeto inédito de recomposição de mata nativa



O assentamento Riacho Fundo, em Petrolina, é palco de uma ação importantíssima na revitalização do São Francisco. É nesta área que a Embrapa desenvolve o projeto “Mata Ciliar”, em parceria com a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf).

O projeto consiste no plantio de mudas de árvores nativas da região, como pau-ferro, jenipapo, jatobá, ingá, entre outras. O objetivo é plantar 200 mil mudas até o final de 2009.

Vale a pena conferir o vídeo que explica o método inovador que acelera a transformação das sementes em mudas para plantio.

É importante todos se engajarem porque as 200 mil que serão plantadas pela Embrapa é apenas 1% das 20 milhões de árvores necessárias para se recompor toda a mata ciliar do São Francisco.


quinta-feira, 25 de junho de 2009

Dica de paraíso



A região da Serra da Canastra, em Minas Gerais, é conhecida nacionalmente por ser o berço da nascente do Velho Chico. Mas se engana quem pensa que se limita a isso. No seu entorno e proximidades, se encontram belas cachoeiras, lagos e chapadões.

Um desses lugares é a cachoeira desta foto, cedida pela amiga e seguidora desse blog Maria Aparecida Lopes (que tem um pezinho em Belo Horizonte e outro em Pimenta/MG). Um pedacinho de paraíso localizado na região entre a Serra da Canastra e o Lago de Furnas.

Para chegar a esse pequeno paraíso é preciso seguir a MG-050, que liga a Região Metropolitana de Belo Horizonte ao Estado de São Paulo, passando pelo Centro-Oeste Mineiro. É só virar nas proximidades de Piumhi e procurar por um lugarejo chamado Turvo.

“E o resto do caminho?” – é a pergunta que vem à cabeça.

A resposta é: “chega lá, para o carro numa venda, refresca a garganta e proseia!”

Ou pensou que seria fácil assim chegar a um paraíso de águas tão puras???

terça-feira, 23 de junho de 2009

Pesquisa aponta queda de 35% no volume de água do São Francisco em 50 anos




Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco contrapõe estudo de instituto norte-americano

Uma pesquisa feita por cientistas norte-americanos aponta que o fluxo de água na bacia do rio São Francisco caiu 35% no último meio século.

Se já não bastasse os muitos anos de degradação com corte de matas ciliares e despejo de esgoto nas águas do Velho Chico, estudo realizado por pesquisadores do National Center for Atmospheric Research (NCAR) e publicado pela Sociedade Meteorológica Americana, aponta o famoso fenômeno climático El Niño com um dos maiores vilões na redução do fluxo das águas do São Francisco.

Os cientistas analisaram dados coletados entre 1948 e 2004 nos 925 maiores rios do planeta, e concluíram que vários rios de algumas das regiões mais populosas estão perdendo água.

Segundo o cientista Aiguo Dai, o líder da pesquisa, essa queda assustadora do volume do Velho Chico se deu principalmente em função da mudanças na quantidade de chuvas na região da bacia, provocadas pelo El Niño, que consiste em um aquecimento anormal das águas superficiais do Oceano Pacífico e que afeta o clima da região e do planeta.

Outro lado
A pesquisa realizada NCAR é questionada pelo pelo engenheiro agrônomo e pesquisador da Fundação João Nabuco, João Suassuna, em artigo publicado pelo Portal Eco Debate.

Baseado em estudos da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf) e da Agência Nacional das Águas (ANA), Suassuna questiona os números da pesquisa norte-americana, mas ressalta que todos os estudos apresentados mostram sim que existe uma redução do volume das águas do Velho Chico.

Fontes da matéria: sites da BBC Brasil e Eco Debate

Crédito da foto: Site BBC Brasil

Leia a matéria completa no site da BBC Brasil

Leia o artigo de João Suassuna no portal Eco Debate

segunda-feira, 22 de junho de 2009

A doce Manga de letrados e tabaréus


Manga é a última cidade das barrancas mineiras lambidas pelas águas do São Francisco.
É de um filho dessa terra-água que vem a nossa indicação de uma boa leitura. O escritor, jornalista, barranqueiro e sonhador Carlos Diamantino Alkmim traz em suas letras a sabedoria de transformar o simples em magnífico e surpreendente.
Autor de Os Tabaréus na Cidade Grande, ele chega nesta última obra – primeiro romance – ao amadurecimento completo de uma carreira que já conta com outros cinco livros (“Sabor de Manga”, “O Repórter e os Coronéis”, “Recordações de Minha Tia” e “Minha Terra, Meu Rio”).
A história e desventuras de dois caboclos que seguem para a cidade grande apresenta, escondidos por trás de cada vírgula, os dois principais traços do autor: o respeito pela simplicidade de sua infância e juventude nas terras barranqueiras de Manga e, ao mesmo tempo, sua vivência como força interiorana importada, que Belo Horizonte se alimenta para crescer.
Os Tabaréus na Cidade Grande pode ser encontrado na Livraria Travessa, na Savassi, em Belo Horizonte, ou diretamente com o autor pelo e-mail (cardialk@terra.com.br).
Foto: Carlos Diamantino durante o lançamento de "Os Tabaréus na Cidade Grande", no Espaço Cultural do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais.
Crédito: Omar Freire

terça-feira, 16 de junho de 2009

Chicos e Chicas






O projeto “Os Chicos” é uma abordagem inédita sobre a diversidade cultural que envolve o Rio São Francisco, efetuada a partir do registro das histórias de vida dos próprios ribeirinhos.

De autoria do jornalista Gustavo Nolasco e do fotógrafo Leo Drumond, “Os Chicos” é executado pela empresa de produção cultural D`Cult, de Belo Horizonte.

Por sua responsabilidade de sempre documentar a cultura das comunidades onde atua, a Cemig se tornou a primeira patrocinadora e parceira do projeto já em 2007.

“Os Chicos” nasceu da prerrogativa de que além de ser um bem natural, o Rio São Francisco serve de cenário para as mais ricas traduções orais de seus moradores. Sua relevância consiste em buscar nas manifestações culturais e folclóricas das comunidades, uma forma lírica e “não oficial” de se falar de um dos mais importantes rios do país, conhecido como o “rio da integração nacional”.

É no modo de contá-las, que o projeto ganha caráter inédito e de resgate histórico. Para marcar a força que o rio tem em seus moradores, os personagens escolhidos deverão se chamar Francisco ou Francisca.

Durante 52 dias, os autores do projeto percorrerão os 2.700 Km do Rio São Francisco, passando pelos estados de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas.

Ao longo do percurso, farão entrevistas e documentação fotográfica dos “Chicos” e “Chicas” das diversas regiões do rio, desde a nascente, em São Roque de Minas/MG, até a foz em Piaçabuçu/AL.

Todo o trabalho de pesquisa e documentação do jornalista e do fotógrafo será transformado em livro, registrado em vídeo digital e neste blog.

Os caçadores de Chicos e Chicas






Conheça um pouco da dupla de pesquisadores, viajantes, sonhadores, amantes de uma boa prosa e caçadores de Chicos e Chicas.


Jornalista Gustavo Nolasco (Belo Horizonte/MG). Sua história com o Rio São Francisco se remete ao ano 2000, quando iniciou uma série de viagens ao longo de toda a sua extensão, pesquisando e entrevistando moradores já com a proposta de elaborar a concepção do projeto Os Chicos. Atualmente, faz parte da equipe da Assessoria de Imprensa do Governador de Minas Gerais. Tem em seu currículo passagem por grandes jornais mineiros, foi fundador do jornal A Semana, em Mariana/MG, além de trabalhos na área cultural. É o autor dos textos do livro “Beira de Estrada”, do fotógrafo Leo Drumond.


Fotógrafo Leo Drumond (Belo Horizonte/MG). Uma das grandes revelações da fotografia mineira, com passagens pelos principais jornais de Minas. Recebeu o prêmio Banco do Nordeste de Jornalismo 2006 e Comunicador do Futuro 2008. Também desenvolveu o projeto "Beira de Estrada", aprovado pela Lei Estadual de Incentivo à Cultura e com patrocínio da Usiminas, que foi transformado em livro, com apoio da Iveco. É um dos sócios da Agência Nitro.


Povo sabido


“Quando a formiga abre os seus túneis próximos da barranca, é sinal de que as cheias serão diminutas. Pode acontecer que o São Francisco extravasse grosso, invadindo as planícies, mas a sabedoria da formiga não sofre arranhão no conceito do sertanejo. Quem errou foi o rio.”

O relato é de M. Cavalcanti Proença, no livro “Ribeira do São Francisco”, editado na década de 40

As surpresas da Serra da Canastra





Em agosto de 2007, Gustavo Nolasco e Leo Drumond cairam pelas estradas mineiras. O objetivo era buscar o primeiro personagem para a produção de um capítulo-piloto do livro “Os Chicos”.

Em São Roque de Minas, aos pés da serra da Canastra, eles tiveram a grata surpresa de achar não só um personagem, mas dois magnifícos “Chicos”, símbolos da mineiridade calma, simples e sábia das terras que guardam a nascente do Velho Chico.

A riqueza visual e as histórias e lendas reveladas pelos personagens deste capítulo-piloto comprovaram o potencial extraordinário do projeto “Os Chicos”.

Os primeiros e inesquecíveis Chicos são: Chico Chagas e Juca Chico.

O produtor rural Chico Chagas é um símbolo da preservação do Parque Nacional da Serra da Canastra.

O quase centenário Juca Chico é um exemplo vivo da riqueza da linguagem oral do Alto São Francisco.

Eles são os personagens do capítulo-piloto do livro “Os Chicos”.

Os Chicos da nascente



Trecho de texto escrito pelo jornalista Gustavo Nolasco e foto de Leo Drumond após uma tarde de prosa em São Roque de Minas:



Era início de tarde. Tarde de inverno, com seu sol dourado entrando em fachos geométricos pela janela de madeira e pela porta de trinco grosso de ferro. À mesa, o queijo Canastra, com faca pronta e louca por cortá-lo; a cachaça com sassafrás; a garrafa de café olhando de longe os copos na pia. Imponente, o fogão de lenha ao canto. O verdadeiro rei daquela típica cozinha de interior mineiro.

O cheiro de mato traz junto a energia de um menino, que nasce ali perto para se tornar gigante nas bandas do Norte. É aos pés do Parque Nacional da Serra da Canastra, nascedouro do menino-gigante rio São Francisco, que está a cozinha de Chico Chagas, matuto de sabedoria oral. Boné sempre a cabeça, óculos grossos para avistar o horizonte longo, cortado por rios e riachos; e as mãos de quem cortou muita cana, alimentou gado, arou pasto e que ainda encontra tempo para tirar sons de uma sanfona.

É ali que Chico Chagas recebe a visita do compadre Juca Chico, menino-moço de 94 anos, ex-garimpeiro, vaqueiro, construtor de igreja e “enterradô de esposa”. O chapéu de feltro, a boca murcha, sempre louca por sorrir; o cinto de couro bem amarrado acima do umbigo e a velha botina, companheira de longas jornadas.

Se de Minas tiraram o ouro, é em Minas que deixaram a prosa.

E foi naquela instante, naquela cozinha, que o projeto Os Chicos se iniciou. Ouvindo histórias, se alimentando de emoção e imortalizando imagens que se multiplicarão por toda a ribeira do São Francisco.

Chicos e Chicas estão à espera de um ouvido para prosear...

domingo, 31 de maio de 2009

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